12 agosto, 2006

Entrevista a Gonçalo Cadilhe

No começo da leitura deste livro, foi sugerido que seria interessante falarmos com Gonçalo Cadilhe para que nos contasse um pouco mais das suas experiências.
O À Volta das Letras contactou o escritor. Infelizmente ou talvez não, Gonçalo Cadilhe continua em viagem, anda, neste momento, à descoberta de África (pudemos ler as suas crónicas na revista Única do Expresso). Como não vai poder estar presente no próximo encontro, Gonçalo, muito gentilmente, respondeu a algumas perguntas que lhe colocámos. Aqui vai...


AVL - Como nasceu a ideia de dar a volta ao Mundo? Era um sonho?

GC - Era uma evolução natural da minha, digamos, "carreira"de viajante. Inicialmente seria uma viagem pessoal, comprando um bilhete de avião "RTW" (round the world), um ano sabático, sem trabalhar, com dinheiro que tinha ganho da escrita do livro "Catedrais da Terra". Mas coincidiu com o lançamento da revista Única, e pensei que era a altura de lançar um projecto "original", e de ideia em ideia cheguei a esta volta ao mundo por terra e mar.


AVL - O que é que o tem marcado mais nas suas viagens?

GC - Cruzamento de fronteiras, amizades no tempo, a expressão do génio humano na arte e na arquitectura, beleza natural intacta e o meu próprio entusiasmo por querer continuar a viajar.


AVL - O Gonçalo, nas suas viagens gosta do contacto com as gentes locais. Chega a referir hábitos e costumes, mas são poucas as alusões à gastronomia. Por algum motivo especial?

GC - Parte da minha vida tem sido passada em contacto com alguma da melhor restauração italiana, não só por questões profissionais (colaboração em revistas dogénero) mas por questões pessoais: sou filho"adoptivo" de uma família de grandes cozinheiros italianos habituei-me a ver a gastronomia por um prisma muito exigente. A maior parte das coisas que eu como pelo mundo fora não tem nada que me seduza ou deixe curioso. Não estou a denegrir o valor das cozinhas regionais, apenas não tenho posses nem oportunidades para as conhecer. Que interesse tem falar do prato do dia que comi no apeadeiro de autocarros de uma aldeia esquecida da Indonésia...Certamente há restaurantes e hotéis em Jacarta que propõem experiências gastronómicas fantásticas, mas eu, com o meu orçamento diário de mochileiro, não tenho a possibilidade de os frequentar.


AVL - Um dos aspectos que achei curioso, foi que em quase todas as crónicas/textos faz referência(s) a livros e autores. Os livros são companheiros de viagem e uma forma de combater a solidão?

GC - Sim, ambas as coisas. Sobre os livros na bagagem e a minha relação com a leitura, sugiro que de uma vista de olhos ao capitulo CASA AS COSTAS, no A lua Pode Esperar.


AVL - Como é que prepara as suas viagens, vai à aventura e no local decide, ou elabora um plano e já sabe o que vai ver e fazer?

GC - Ao longo da vida fui e vou elaborando curiosidades sobre o mundo que depois um dia se tornam projectos de viagem. A parte cultural, digamos, intemporal de um destino (o que quero ver e porque, com que critério, ligado por um fio condutor a outras coisas, outros destinos)preparo com essa antecedência. A parte pratica (onde dormir, como viajar entre dois pontos), decido no momento.


AVL - Nunca lhe apeteceu ficar a viver num dos sítios que visitou?

GC - Não com essa dose de idealismo (eu era lá capaz de ficar parado num sitio... a viver), mas já vi sítios muito bonitos que me fazem dizer: se um dia quiser parar e criar família...


AVL- De que tem mais saudades quando está fora? É mesmo só do nosso café?

GC - Geralmente das coisas que me reconciliam com Portugal. Clima, mudança das estações, cidades pequenas longe da grande Lisboa e do Algarve, produtos gastronómicos sensatos imediatamente disponíveis na banca do mercado, a infância, enfim, raízes, amigos...


Felicidades para o clube de leitura

GC ( Gonçalo Cadilhe)

Obrigado nós…e boas viagens. (VL)

14 comentários:

alyia disse...

Boa entrevista

Anónimo disse...

Fiquei com vontade de conversar mais com ele. :)
Gostava de ter essa liberdade de conhecer o mundo sem os constrangimentos de um emprego fixo e de contas para pagar. Para Gonçalo, a lua pode esperar, mas para mim, e tantos como eu, às vezes o "mundo" é demasiado distante, embora virtualmente esteja aqui tão perto. Costumo dizer que tenho alma de caixeira viajante. Quero poder um dia largar amarras e fazer do sonho um presente. Citando Gabriel Garcia Marquez " vivir para contarla"...

Totoia disse...

Pois é India, acho que todos nós o invejamos... O que ele faz é o sonho que temos guardado cá dentro. Eu acredito que um dia mais tarde, tire tal como ele, um ano sabático e parta a descoberta, mas do desejar ao concretizar...

dancingkid disse...

gostei imenso da entrevista, keep in touch gonçalo!!!

Anónimo disse...

Excelente entrevista! O Gonçalo Cadilhe viaja e sabe tirar partido das viagens que faz!

Apesar de não estar a ler o livro a questão de ele nunca referir as gastronomias locais deixava-me curiosa! Agora percebo o porquê de ele não referir esse tópico!

Vegana da Serra disse...

É uma pena ele não poder ir ao encontro... deve ter kilómetros de histórias para contar.

Anónimo disse...

Eu adoraria ouvi lo mesmo contar cada uma das suas historias,deve ter centenas,milhares..sei la tantas mm!O seu livro e demais mesmo.è dos melhores livros que ja li,sem duvida alguma.A maneira de ele descrever as coisas e simplesmente fabulosa.Os meus parabens ao GOncalo Cadilhe e continuacao de umas boas viagens que eu ca ficarei a espera dos seus proximos livros.Cumprimentos.

Totoia disse...

Pois é Francisco, nós tanbém gostavamos de o ouvir falar das suas viagens, infelizmente como anda por África, não vai poder estar presente. Pode ser que no próximo livro ele consiga ir ao nosso encontro.

Anónimo disse...

Tenho andado um bocado a leste...
Nunca mais me lembrei do À volta das Letras, nem dos vossos blogs.
Estão de parabéns. Gonçalo Cadilhe deve ser alguém com muito para partilhar.
Os kilómetros de histórias ficarão para outra altura.

Filipa

Pata disse...

Gostei muito da entrevista e fiquei também cheia de vontade de saber mais, quem sabe comprando o livro.
beijinhos

Totoia disse...

Acho que fazes muito bem em comprar o livro Pata.

Bjs

Anónimo disse...

Ao autor(a) do post:
Sou uma tradutora espanhola interessada em traduzir os livros do Gonçalo Cadilhe ao Espanhol, nomeadamente o Planisfério Pessoal.
Entrei em contacto com a editora mas não obtive resposta até hoje. Sabe se haveria alguma forma de contactar directamente com o autor para lhe propor a tradução?
Muito obrigada pela ajuda.
Melhores cumprimentos,
Ana Mato Hombre
anamatohombre@yahoo.es

Anónimo disse...

adorei a entrevista. ja tinha ouvido falar do gonçalo atravez da avo k muito se orgulha do neto pela sua coragem de aventura por esse mundo fora.

Anónimo disse...

São pessoas como o Gonçalo que nos mostram que não estamos sozinhos na nossa maneira de observar o mundo, nomeadamente no desprezo que sentimos em relação a toda a vida sedentaria que as pessoas vivem sem se aperceberem, ou simplesmente por não possuirem sonhos/projectos para alem do comum. Obrigado Gonçalo. Se algum dia perderes o entusiasmo no teu estilo de vida has de, certamente, arranjar outro percurso saudavel.
Jorge Cordeiro.