02 outubro, 2006

Ler Saramago ...

Para falar da leitura, tenho que falar da escrita. E este é, apenas, o quarto livro que leio deste autor.

Inicialmente, achei muito densa a sua maneira de escrever. Parágrafos grandes, frases quase do tamanho dos parágrafos e muitas vírgulas. Mas, como o primeiro livro que li foi O Ensaio sobre a Cegueira, que me arrebatou do princípio ao fim, rapidamente ultrapassei esses preconceitos em relação à sua escrita.

Quando leio Saramago tenho que estar concentrada para poder entrar nas suas palavras, perceber o seu sentido crítico e deixar-me transportar pela imaginação através do texto. Sinto nos seus livros muito sentido de humor.

E vocês, o que vos leva a ler ou a não ler Saramago?

14 comentários:

Vegana da Serra disse...

Estou a ler o memorial e estou a gostar. Porque este tem pontuação.

O que me leva a não ler saramago é a ausência de pontuação.

Acho revoltante as professoras de português acrescentarem vírgulas nos nossos testes, enquanto Saramago, que não respeita as regras de pontuação portuguesas, até ganha um prémio nobel.

Onde está a justiça disto?

Totoia disse...

Minerva a função de Saramago não é ensinar português ao contrário dos professores. Aquilo que ele pretende é que o leiam com atenção, repara que este livro exige uma concentração acima do normal.

Eu gosto de ler Saramgo pq ele tem um tom provocador, mas confesso que não é uma leitura que consgia ler sempre, tenho de estar inspirada, não sei se percebem o que quero dizer?

Barão da Tróia II disse...

Já li, quase tudo do Saramago, lei-o porque gosto, porque me dá prazer ler aquilo que ele escreve, simples. Bao semana.
Também gostei do "Ensaio"

nica disse...

É a primeira vez que espreito... Muito interessante! Em relação a Saramago, nunca li. Porque há tanta coisa que quero ler e o tempo (essa velha desculpa...) não chega. Tenho tendência para me viciar num autor e não descanso enquanto não o descubro todo. Primeiro foi o Garcia Marquez (génio!). O último no qual me viciei foi o Rodrigo Guedes de Carvalho. Para quem não sabe, é muito mais que um pivot de telejornal...

Laranjinha disse...

Nica, também tenho tendência para me ir ligando a autores. De Rodrigo Guedes de Carvalho ainda não li nada, mas tenho curiosidade. No entanto, tenho acompanhado, por exemplo, autores como Paul Auster, Richard Zimler, etc ...

Totoia disse...

Olá Nica tens razão tive a oportunidade de o ouvir a falar dos seus livros e fiquei encantada.

Dele já li do Daqui a nada e gostei muito, quando soube que ele o tinha escrito com 20 anos ficou muito admirada.

Já nos aconselharam a Mulher de Branco para livro do mês do à volta das letras, quem sabe um dia destes.
Vai estando atenta.

Vegana da Serra disse...

Ó totoia, desculpa lá, mas se estamos a falar de literatura, é bom que se escreva em português correcto!!! Ele não perdia nada em colocar mais vírgulas e pontos nos textos, até acho que isso ia aumentar a beleza da sua escrita. E a malta agradecia!

Anónimo disse...

Para lançar a confusão. E Lobo Antunes já experimentaram? Eu que tinha o Memorial na mesa de cabeceira não vos consegui acompanhar, porque não consigo parar de ler António Lobo Antunes.
TB

Totoia disse...

Não concordo, Saramago escreve com um vocabulário rico com frases bem feitas, não põem pontuação é uma opção dele, como criador tem que ter alguma liberdade.

Se ele escreve-se manuais de como escrever ou falar português tudo bem podia concordar contigo...

Olá TB, Lobo Antunes ainda não li nada pelo menos que me lembre, mas dizem que Rodrigo Guedes de Carvalho é muito parecido, as criticas dizem que ele se colou a Lobo Antunes. Um elogio muito grande (na minha opinião) para Rogrido Guedes de Carvalho.

as velas ardem ate ao fim disse...

A mim o que me leva a ler Saramago é o seu sentido critico, o seu olhar sobre as coisas, o transportar me para a historia e conseguir fazer participar me dela.

O Ensaio sobre a Lucidez devia ser obrigatório nas escolas para que as nossas crianças/adolescentes tivesse oportunidade de apurar o sentido critico através do pensamento, ie, e preciso pensar para se ter opiniao sobre as coisas.Para mim é simplesmente genial.

bjinhos

Anónimo disse...

A primeira vez que tentei ler Saramago (à alguns anos atrás) não consegui precisamente devido á sua maneira densa de escrever!

Sou uma visitante assídua deste blog e logo desde inicio as transcrições da obra e os vossos comentários começaram-me a despertar a curiosidade para tentar ler novamente Saramago!

Começei a ler o "Memorial do Convento" e estou a gostar, até estou com vontade de ler a seguir O Ensaio sobre a Cegueira, Saramago acabou por me seduzir.

Concordo inteiramente contigo quando dizes que para lermos Saramago temos que estar concentrados e "entrar-mos" no texto. Concordo também que ele tem um excelente sentido crítico e que para mim é sem dúvida isso que me tem vindo a fascinar em Saramago (do pouco que li dele).

nica disse...

Em relação ao Rodrigo Guedes de Carvalho, "Mulher em Branco" é de um intensidade perturbante. Um livro que mexe connosco. "A Casa Quieta", o anterior, também o li num ápice, excelente, dramático, comovente.
Guedes de Carvalho foi uma espécie de estágio de preparação que fiz para me lançar no Lobo Antunes.
A escrita deles tem, segundo me dizem, muitos pontos em comum.
Acho que vai ser a minha próxima aventura, Lobo Antunes. Além de tudo o resto, o senhor tem qualquer coisa de enigmático, de misterioso, que me aguça a curiosidade...

Rui Pedro disse...

Realmente o que me leva a não ler Saramago?! Depois de pensar um bocado no assunto cheguei a uma conclusão horrorosa, quase inconfessável.

Quando Saramago lançou o último livro (acho que ainda não lançou uma nova obra depois de "As intermitências da Morte") esteve no telejornal do Mário Crespo a falar do livro. À medida que explicava (!) o livro diminua a minha vontade de o ler. Aquilo parecia-me fastidioso, chatinho de morrer, tresandava aos nossos problemas comezinhos com a Segurança Social. Gosto muito do Mário Crespo mas aquele foi um momento infeliz de televisão. Acho que uma obra literária (uma pintura) não se explicam. Têm uma leitura aberta, cada um de nós vai ver nela o que lhe toca, a explicação do autor apenas "amiopia" os leitores. Um dia comentava uma pintura com o seu autor, dava-lhe a minha interpretação, e ele disse-me, "é pá, não é nada disso, aconteceu que faltou a água em Lisboa durante dois dias num verão, e isso angustiou-me e foi por isso que pintei isto". Fiquei estarrecido, a minha interpretação era muito mais bela (!) ("a arte tem valia porque nos tira daqui" - Fernando Pessoa). Se calhar estava a chatiá-lo com as minhas interpretações e ele vingou-se com a sua explicação!

Resumindo e concluindo, muito injustamente, estou quase certo disso, acho que o Saramago é um burocrata das letras. É um burocrata que ainda por cima reflecte o que costumo chamar o "sindroma dos verdes anos", numa referência ao filme Verdes Anos de Paulo Rocha de Paulo Rocha (1963): aridez, atrás de aridez, e ainda mais aridez claustrofóbica.

Tenho estado a ler um livro autobiográfico do Nobel Isaac Singer, de quem já li alguns livros. Aquilo abre para a vivência do autor - não explica as suas obras! - e dá-nos conta das suas reflexões misticas (o que também surge no Tribunal de Meu Pai, onde conta alguns casos decididos pelo seu pai que era Rabi e a que ele assistiu quando era criança), para além do seu confronto com a vida e as letras. Se calhar a minha infundada opinião é apenas uma variante da velhinha história: santos da casa não fazem milagres.

Anónimo disse...

O primeiro foi "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" tinha na altura uns doze anos e foi nas férias de verão. Uma edição muito fraquinha daquelas promoções da Planeta Agostini da altura. Mas fiquei fascinada: com as ideias, a escrita, a história. Era um novo mundo que se abria diante dos meus olhos. Depois o "Memorial do Convento", depois o "Todos os Nomes", o "Homem Duplicado" Levantado do Chão"... ufa... para já é só