31 outubro, 2006

Citação

"Morri vezes demais em Angola para lá voltar".

António Lobo Antunes, Biblioteca de Oeiras, Novembro 2006

Expressão artística

"Ao ouvir estas palavras, Carlos lembrou-se, por associação de ideias, da mãe. Lembrou-se sobretudo da maneira apaixonada como ela falava de uma casa de família na Metrópole, uma casa de sonho, dizia ela, com paredes forradas de azulejos barrocos com pinturas de anjos e caravelas. A mãe gostava muito daquela casa - foi ali que passaram a lua-de-mel. Gostava tanto dos azulejos que os reproduziu num quadro que pendurou na parede de uma das salas da Fazenda das Terras do Mundo Perdido."
In Paralelo 75, pág. 200
O azulejo chega até nós pelas mãos de D.Manuel I, em 1498, que numa viagem a Espanha fica deslumbrado com a decoração dos edificios visitados em Saragoça, Toledo e Sevilha. Decide então trazer o azulejo hispano-mourisco para Portugal, podemos ver algumas obras no Palácio Nacional de Sintra, uma das residências do rei.

Portugal manteve a produção de azulejos, podemos hoje ver esta forma de expressão artística em quase todos os palácios, igrejas,mosteiros.
Em 1980 é criado o Museu Nacional do Azulejo, tendo como anexo a igreja, a sacristia, a sala do capítulo, o coro e os claustros do Convento da Madre de Deus.

30 outubro, 2006

Lover Come Back



No livro a personagem James Clark, (mais conhecido pelo cowboy americano), fala num filme “Volta meu Amor”, em que contracenaram Rock Hudson e Doris Day.

O filme com o título original de “Lover Come Back” foi lançado nos EUA em 1961, recebeu uma indicação de Óscar, na categoria de melhor roteiro original.

Fiquei com curiosidade de ver o filme.

Receita Angolana

“ O velho capataz também preparou um suculento jantar – cabrito assado no forno, acompanhado com mandioca e inhame cozido. Era o prato favorito do Senhor Engenheiro.”

In Paralelo 75, pág. 154

Lavam-se os inhames em água corrente esfregando-os com um piaçaba para os limpar bem da terra.
Colocam-se os inhames num tacho, cobertos de água temperada com sal. Levam-se a cozer em lume brando, devendo a água evaporar completamente. Voltam a cobrir-se de água, que deve ferver até evaporar como a anterior. Dizem que para ficarem bem cozidos, os inhames devem secar três vezes a água. No entanto há quem os coza longamente acrescentando a água à medida que se vai evaporando e há ainda quem os coza na panela de pressão (1 hora e meia). Depois de cozidos, descascam-se e servem-se quentes ou frios como acompanhamento ou ainda cortados ás rodelas grossas e fritos em óleo bem quente. São um bom petisco com chouriço assado ou frito. Há também quem coma o inhame com açúcar ou melaço.

Em São Miguel dão o nome de «minhotos» aos inhames pequenos. A este tubérculo dão na generalidade da região açoriana o nome de «tocas». Para os arranjar, a maior parte das pessoas usa luvas, pois os inhames provocam picadelas e comichão. Dizem que estas desaparecem assim que a água de os cozer começa a ferver
Receita tirada de Roteiro Gastrónomico .

26 outubro, 2006

Expressões populares

"Porque ataca a serventia do homem. Ataca a serventia de um homem - repetiu.
(...)
O senhor engenheiro deu uma gargalhada que fez com que Euclides Carrapato arrepiasse caminho.
(...)
-Senhor Engenheiro, o mata-bicho já está servido."

In Paralelo 75

Gosto de expressões populares, embora, em alguns casos, não consiga perceber a origem ou mesmo o seu significado. Aqui ficam algumas que ouço desde sempre:

- Foi rés vés Campo de Ourique
- Mudar a águas as azeitonas
-Aqui há gato!
- Cabeça de alho xoxo
- Cruzes canhoto
- Macacos me mordam
- Tapar o sol com uma peneira
- Os amigos conhecem-se no hostipal e na cadeia
- Nem oito nem 80
- Matar dois coelhos com uma cajadada só
- Levar água ao seu moinho
- Há Mouro na costa
- Ainda aí passarinho verde
- Há mais de 7 sábados
- Fazer trinta por uma linha
- Gaba-te cesta que vais à feira

E vocês conhecem alguma expressão gira?

24 outubro, 2006

O Segredo de um Coração Traído


Depois dela
Fiquei assim
A Balançar ao vento
Sem ela

Depois dela
Perdi o norte
E dancei na chama
Sem sela.

Depois dela
Procurei a estrela
E caminhei pela memória
Sem trela.

Depois dela
Emprestei a alma
E encontrei um vagabundo
Sem terra

Depois dela
Fiquei assim
Sem mim
E sem ela.

In Paralelo 75,p. 263


Um POEMA, era o segredo mais bem guardado pelo Sr. Engenheiro!!!

O poema que escreveu quando a mulher o abandonou pelo cowboy americano, desde esse dia o Sr. Engenheiro deixou-se morrer.

Noites Africanas


Noite

Noites africanas langorosas, esbatidas em luares,
perdidas em mistérios
Há cantos de tungurúluas pelos ares!

Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros

Noites africanas tenebrosas,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das histórias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...

E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias...

Por isso as noites são tristes...
Endoidadas, tenebrosas, langorosas,
mas tristes... como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas...
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas...

É que os meninos brancos,
esqueceram as histórias, com que as amas-secas pretas
os adormeciam, nas longas noites africanas...

Os meninos-brancos... esqueceram!...

Alda Lara (Poetisa Angolana 1930-1962)
1948-Outubro (Poemas1966)


“A noite estava estrelada, alegre, a Ursa Maior caminhava vagarosamente para norte, a Lua estava coberta de luz, ouvia-se o sussurro do vento a abraçar a escuridão. Era uma noite daquelas que só África consegue oferecer.”

In Paralelo 75, pág. 155
Ao contrário do que diz o poema os meninos brancos agora homens, não esqueceram África e muito menos as suas noites. Sempre que me falam de África dizem-me que noites como aquelas não há em mais lugar nenhum do mundo, são ao que dizem noites mágicas...

23 outubro, 2006

Santa Lídina


"Quando o sr. Engenheiro chega à fazenda e entra no que resta da capela, repara que a imagem de Santa Lídina "foi pregar para outra freguesia".
Surgiu a dúvida de quem seria esta Santa, pedi ajuda a um especialista nesta matéria que me esclareceu que Santa Lídina é conhecida como Liduina ou Lidwina Meneguzzi no Brasil e que a sua festa celebra-se no dia 2 de Dezembro.

Para saber mais ver aqui.

22 outubro, 2006

A importância de uma árvore ...

«(...) deixou o olhar caminhar ao encontro de uma árvore de folhas ovais, miúdas e estreitas, pintadas a verde-escuro e brilhante. Não precisou de arragaçar os ouvidos para escutar o zumbido das abelhas e outros insectos que se deliciavam com o néctar produzido pelas vistosas flores. Era o seu metrossidero de estimação, uma árvore originária da Nova Zelândia (...) na Fazenda das Terras do Mundo Perdido também havia uma, mandada plantar pelo seu avô paterno.»

in Paralelo 75, p. 72

Segundo o livro o Sr. Engenheiro gostava muito do metrossidero da Praça da Alegria, porque esta árvore lhe fazia lembrar a sua terra. Em África, foi junto ao metrossidero, que o seu avô plantou, que foi sepultado.

Um destes dias ainda passo na Praça da Alegria para ver se lá está algum metrossidero. Em flor deve ser lindo.

Porquê esta árvore? O livro refere que se adapta muito bem a condições adversas. Será essa a razão?

É metrossidero ou metrosídero?

Na Nova Zelândia estas árvores florescem em Dezembro e Janeiro. Por esse motivo, lá, são conhecidas como árvores de natal. Pelas fotos que vi, são lindas.

A morte do Sr. Engenheiro

«- Acabou o sofrimento do senhor engenheiro - foi assim que o Orelhas verbalizou a triste notícia.»

Fiquei com a sensação que o Orelhas ajudou a acabar com o sofrimento do seu amigo Daniel.

20 outubro, 2006

O estado actual da nossa literatura ....

Lobo Antunes considera que "enxurrada de mediocridade" enche as livrarias. Aqui.

O Velho e o Mar

"Ao lado da sua cigarreira de parta, colocada numa mesinha de apoio, o livro o Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. Pela posição do separador, o velho deve ter passado o dia inteiro entretido com a leitura."
In Paralelo 75, pág. 123
O Velho e o Mar é uma novela de Ernest Hemingway escrita em Cuba em 1952. Conta a história de um velho pescador que luta com um gigante peixe-espada em alto mar por entre a Corrente do Golfo. Para além de ser um dos romances mais conhecidos de Hemingway é também dos livros mais citados por outros escritores nas suas obras. Hemingway foi prémio Nobel em 1954.

19 outubro, 2006

Imagens de Quitexe



Imagens de Angola, Arquivo Digital do Espaço Aveiro e Cultura, Autoria Jorge da Cruz
Para mais informações consulte aqui.

Ford Taunus


"- Não aguenta de certeza absoluta - concordou o filho. E era verdade. Há muito que o Ford Taunus do antigo motorista da Companhia Colonial dos Cafés não tinha pedalada para aguentar uma viagem tão arriscada."
In Paralelo 75, pág.116
Este carro nasceu em Junho de 1939 o primeiro modelo Ford genuinamente alemão, marcou várias gerações ao londgo de décadas. Quem viveu em África na década de setenta deve-se lembrar perfeitamente deste carro.

18 outubro, 2006

Terras do Mundo Perdido

Terras do Mundo Perdido, associo este nome à obra de Arthur Conan Doyle "O Mundo Perdido". Seria mesmo esta a intenção dos autores?

Santa Lídina

Quando o sr. Engenheiro chega à fazenda e entra no que resta da capela, repara que a imagem de Santa Lídina "foi pregar para outra freguesia".

Sabem quem foi esta Santa? O que fez? Procurei no Google, mas não encontrei nada.

16 outubro, 2006

As Terras do Mundo Perdido



“(...)Ao terceiro dia de viagem, a carrinha de Euclides Carapato penetrou na floresta cerada. A folhagem luxuriante abafou a paisagem, o sol eclipsou , a temperatura baixou, a humidade subiu, o cheiro húmido da terra invadiu as narinas. Foi certamente este cheiro típico de África que acordou o Sr. Engenheiro. (...)”

In Paralelo 75, p.136

Podemos a imaginar a sensação que o Sr. Engenheiro teve ao regressar a África, à sua fazenda aos locais onde viveu durante tantos anos.
Quantas vezes sentimos a necessidade de voltar a lugares e a viver situações que guardamos na nossa memória?

15 outubro, 2006

A chegada a Lisboa

«- A Metrópole é aquilo? - gritou um miúdo enquanto apertava bem forte as mãos do avô.
(...) Um mundo a que a maioria apenas conhecia de ter ouvido falar.»

«Era uma verdadeira luta para se conseguir lugar no avião, até vinha gente sentada no chão (...) muitas vezes as bagagens ficavam em terra, a multidão a protestar, a descarregar insultos, e quando se apercebiam que não podiam trazer mais do que a roupa que tinham no corpo, desatavam a chorar. De raiva. »

in Paralelo 75, P. 24 e 82

Pela descrição do livro, a chegada a Lisboa era um choque para muitos, especialmente para aqueles que já nasceram em África. Apercebemo-nos da enorme confusão que deve ter sido.

Para saber um pouco mais sobre a nossa presença em Moçambique, clique aqui.

13 outubro, 2006

Retornados

Ler mais aqui.

Retornado

Retornado: 1. O que regressa ao sítio de onde partiu; o que retorna.2.O que regressou a Portugal vindo das colónias, após a descolonização. Eles são retornados de Moçambique. Na década de 70, veio para Portugal quase um milhão de retornados.”Cacos de um império a cair aos bocados como prédios de Lisboa e os seus caóticos cais onde atracam navios de retornados fugidos ao que julgam fosse porto seu até lhes virem dizer que se ponham ao fresco, que acabou a comédia, a tragicomédia”(Almeida Faria, Cavaleiro Andante, p.233) .

Dicionário Língua Portuguesa Contemporânea / Academia das Ciências de Lisboa

12 outubro, 2006

Desafio ...

«O melhor daquela viagem foram mesmo os quinze dias em alto mar (...) É verdade que o paquete Pátria era um verdadeiro luxo e nem o facto de vir a abarrotar de gente lhe retirava parte do seu esplendor. Parecia um hotel de cinco estrelas a deslizar pelo oceano, o pequeno-almoço servido em Vista Alegre, talheres de prata adormecidos sobre guardanapos de linho, o almoço à beira da piscina, a ceia de fato e gravata apesar do calor tórrido. Era um ambiente digno de um filme americano (...)»
in Paralelo 75, P. 21 e 22

Como sabemos, muitos foram os portugueses que sairam das ex-colónias em África, alguns apenas com a roupa no corpo, como se costuma dizer. Uns vieram para a Metrópole, outros rumaram a outros destinos, por exemplo África do Sul.

Este é um momento da nossa história de que ainda se fala pouco. E, pelo que sei, não recebemos de forma digna os chamados "retornados" .

Gostaria de lançar aqui um desafio: convido-vos a partilharem connosco histórias/experiências de que tenham conhecimento ou que algum familiar viveu. Para isso, podem colocar comentários ou enviar-nos os vossos textos ou outros elementos (fotos, cartas, postais, etc ...) por email.

A leitura deste livro pode ser uma forma de darmos a conhecer histórias individuais, de pessoas comuns, que viveram parte da nossa história que ainda está adormecida.

Como era a vida na Metrópole? Que diferenças com a vida nas colónias? Como reagiram as pessoas à chegada dos retornados? O Estado apoiou-os? Como foi recomeçar tudo de novo? Quem chegou que dificuldades encontrou?

Muitas são as questões que poderia continuar a colocar. No entanto, fica aqui o desafio, por agora apenas ligado à vida nas colónias e ao retorno a Portugal. A seu tempo será alargado à Guerra Colonial.

11 outubro, 2006

Motivações

" Chorou naquele dia e nos dias seguintes. Chorou nos dias dos anos seguintes sempre que se lembrava daquele dia. Mesmo assim, não queria apagar aquela imagem do pensamento. Era a dose de ódio que lhe permitia continuar a caminhar, a injecção de rancor que lhe dava energia, a lufada de ressentimento que lhe alimentava a ilusão.
A ilusão de que, um dia, ela regressaria, arrependida, e ele a faria pagar pelo dia, os dias de todos os anos, em que sofreu por ela."
In Paralelo 75 ou o segredo de um coração traído
Será o ódio uma motivação tal como o amor ou a amizade? O que nos faz correr, o que nos faz andar para a frente, o que nos faz mover??

A Morte com Aviso

No início do livro Paralelo 75 ou O Segredo de um Coração Traído encontramos uma personagem que descobre ter uma doença que lhe roubará a vida dentro de pouco tempo.

Na mesma situação, o que fariam com esse escasso tempo?

10 outubro, 2006

Biografia


Jorge Araújo autor dos livros Paralelo 75 ou O Segredo de um Coração Traído , do Nem tudo começa com um beijo e Timor, o Insuportável Ruído das Lágrimas nasceu em Cabo Verde é formado em comunicação social e teatro pela Universidade Católica de Lovaina. Trabalhou na BBC, em Portugal fez parte da equipa do jornal o Independente e da TVI, ganhou o Grande Prémio Gazeta do Clube de Jornalistas (1999) e foi galardoado com o Prémio AMI - Jornalismo contra a Indiferença (2003).

Pedro Sousa Pereira é o responsável pelas ilustrações dos dois livros que Jorge Araújo escreveu Paralelo 75 ou o segredo do coração partido, do Nem tudo começa com um beijo. Nasceu em Angola em 1966, é formado em comunicação social pela Escola Superior de Jornalismo do Porto. Actualmente jornalista da SIC já pertenceu ao Comércio do Porto, participou na fundação da Rádio Nova e integrou a redacção da Rádio Macau. É também autor de um disco sobre os anos de prisão de Xanana Gusmão e participou noutro sobre o general Humberto Delgado. Em 2003, venceram o Prémio Literatura Gulbenkian com o livro Comandante Hussi.

Os dois autores conheceram-se em Dili, Timor Leste em 1999 e ficaram grandes amigos.

08 outubro, 2006

Visita ao Convento

A seguir ao encontro do À Volta das Letras e já com o próximo livro escolhido, fomos visitar o Convento, resultado do esforço de 52 mil homens e 35 anos de árduo trabalho.

Na visita percorremos os 232 metros que o rei tinha que efectuar para visitar o quarto da rainha, contemplámos os tectos de Cirillo Volkmar Machado e percebemos alguns aspectos da vida, no convento, nos séculos XVIII e XIX.

Por fim, vimos um dos famosos morcegos que habitam a biblioteca e foi referido que afinal as ratazanas existem mesmo!

Encontro À Volta das Letras

O encontro do À Volta das Letras decorreu tal como combinado na esplanada do café Sete-Sóis, mesmo em frente ao Convento de Mafra.

A conversa começou com o balanço do livro do mês de Setembro, Memorial do Convento de Saramago. Muitas foram as questões colocadas: - a escrita de Saramago, as personagens Blimunda e Sete-Sóis, as particularidades da sociedade do século XVIII, o comportamento do clero, a pobreza do povo, as figuras históricas do romance e o próprio convento.

O livro do mês de Outubro é Paralelo 75 ou O Segredo de um Coração Traído de Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira. Esta obra foi escolhida entre várias propostas, nomeadamente O Último Papa de Luís Miguel Rocha, Deixei o meu Coração em África de Manuel Arouca, A Costa dos Murmúrios de Lídia Jorge, Longe de Manaus de Francisco José Viegas e Codex 632 de José Rodrigues dos Santos. Relembro que o À Volta das Letras definiu como objectivo a escolha, para as propostas de leitura, de autores portugueses ou autores/obras que de alguma forma se relacionem com Portugal.

O próximo encontro será no dia 5 de Novembro, às 10h30 na Fundação Calouste Gulbenkian, mais concretamente, na esplanada da cafetaria/restaurante existente no edifício do Museu Gulbenkian.

06 outubro, 2006

Post it

Relembro...
O encontro é já no próximo Domingo 8/10, às 10h30 na esplanada do restaurante/bar Sete Sóis mesmo em frente ao Convento de Mafra.
Quem não souber o caminho pode ir ter à estação de Sintra por volta das 9h30m.
Se não leram o livro não faz mal, vamos falar de muitas coisas.
O próximo livro já está quase decidido (ainda vamos a votos), mas se for este, o próximo mês promete!!

Domenico Scarlatti

Domenico Scarlatti, italiano, compositor na corte de D. João V.

03 outubro, 2006

Blimunda......porquê?


Já alguma vez se questionaram porque é que Saramago escolheu o nome Blimunda para uma das personagens principais do livro?

Será que o nome é uma consequência da forma rara e estranha de ser da personagem?

Vejam a entrevista a Saramago onde ele explica a sua escolha.


"Muitas vezes me perguntei: porquê este nome? Recordo-me de como o encontrei, percorrendo com um dedo minuncioso, linha a linha, as colunas de um vocabulário onomástico, à espera de um sinal de aceitação que haveria de começar na imagem decifrada pelos olhos para ir consumar-se, por ignoradas razões, numa parte adequadamente sensível do cérebro. Nunca, em toda a minha vida, nestes quantos milhares de dias e horas somados, me encontrara com o nome de Blimunda, nenhuma mulher em Portugal, que eu saiba, se chama assim.

(...)Tentando, nesta ocasião, destrinçar aceitavelmente as razões finais da escolha que fiz, seria uma primeira razão a de ter procurado um nome estranho e raro para dá-lo a uma personagem que é, em si mesma, estranha e rara. De facto, essa mulher a quem chamei Blimunda, a par dos poderes mágicos que transporta consigo e que por si sós a separam do seu mundo, está constituída, enquanto pessoa configurada por uma personagem, de maneira tal que a tornaria inviável, não apenas no distante século XVIII em que a pus a viver, mas também no nosso próprio tempo. Ao ilogismo da personagem teria de corresponder, necessariamente, o próprio ilogismo do nome que lhe ia ser dado. Blimunda não tinha outro recurso que chamar-se Blimunda.

Ou talvez não seja apenas assim.

(...)Que outra condição, então, que razão profunda, porventura sem relação com o sentido inteligível das palavras, me terá levado a eleger esse nome entre tantos? Creio que sei a resposta, que ela me acaba de ser apontada por esse outro misterioso caminho que terá levado Azio Gorghi a denominar Blimunda uma ópera extraída de um romance que tem por título Memorial do Convento: essa resposta, essa razão, acaso a mais secreta de todas, chama-se Música. Terá sido, imagino, aquele som desgarrador de violoncelo que habita o nome de Blimunda, profundo e longo, como se na própria alma humana se produzisse e manifestasse, que me levou, sem nenhuma resistência, com a humildade de quem aceita um dom de que não se sente merecedor, a recolhê-lo num simples livro, à espera, sem o saber, de que a Música viesse recolher o que é sua exclusiva pertença: essa vibração última que está contida em todas as palavras e em algumas magnificamente."

SARAMAGO, José, in Jornal de Letras, Lisboa, 15 de Maio de 1990, pág. 29.

Ponto de encontro


O nosso encontro, como já todos devem saber, é no próximo Domingo às 10h30. Como o Convento de Mafra não tem cafetaria temos de nos encontrar num cafézinho que fica mesmo em frente, chama-se Sete Sóis (porque será?) e tem esplanada.

Depois de bebermos um cafézinho e conversarmos à volta do(s) livro(s), vamos visitar o Convento (gratuito até as 14h).

Apontem nas agendas e mais uma vez relembro, mesmo que não tenham lido o livro, apareçam pois garanto-vos que não são os únicos.

02 outubro, 2006

Ler Saramago ...

Para falar da leitura, tenho que falar da escrita. E este é, apenas, o quarto livro que leio deste autor.

Inicialmente, achei muito densa a sua maneira de escrever. Parágrafos grandes, frases quase do tamanho dos parágrafos e muitas vírgulas. Mas, como o primeiro livro que li foi O Ensaio sobre a Cegueira, que me arrebatou do princípio ao fim, rapidamente ultrapassei esses preconceitos em relação à sua escrita.

Quando leio Saramago tenho que estar concentrada para poder entrar nas suas palavras, perceber o seu sentido crítico e deixar-me transportar pela imaginação através do texto. Sinto nos seus livros muito sentido de humor.

E vocês, o que vos leva a ler ou a não ler Saramago?

01 outubro, 2006

Lisboa no Memorial do Convento

«(...) cidade de tão poucas fontes de água para beber e onde os galegos não duvidam de ir encher os barris à fonte dos cavalos (...)» in Memorial do Convento, ed. RBA - Narrativa Actual, P. 15

«(...) a cidade é imunda , alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não chove.» P. 24

«(...) da pocilga que é Lisboa» P. 24

«Lisboa cheira mal, cheira a podridão (...).» P.24

«Lisboa derramava-se para fora das muralhas. Via-se o castelo lá no alto, as torres das igrejas dominando a confusão das casas baixas, a massa indistinta das empenas» P. 36

Certo é que a Lisboa do século XXI muitas diferenças tem da do reinado de D. João V e ainda bem. Mas, no entanto, há dias em que Lisboa cheira mal. Hoje foi um deles, na zona da Expo, perto da marina, ao final do dia, andava no ar um cheiro nauseabundo.

Outro aspecto que me incomoda, eu que me farto de andar a pé, é que os animaizinhos de estimação deixem presentes pelos passeios da cidade, com o consentimento dos seus donos. E, infelizmente ainda temos algumas ruas feias, cinzentas da poluição e com lixo pelo chão, especialmente devido à falta de civismo de alguns cidadãos que deixam a reciclagem, não no respectivo contentor, mas ao lado. Ou, como já tenho visto, simplesmente mandam o lixo para o chão. Retiram o último cigarro do maço e, naturalmente, amarrotam e mandam para o chão, é a publicidade que recebem na rua ou o papel do gelado ... tudo para o chão, pois claro!

Resumos ...

Encontramos aqui e aqui resumos do Memorial do Convento. Quem sabe, se não são uma boa opção para quem não tem "tempo" para ler a obra.

Curiosidade ...

O palacete onde hoje está instalado o Museu da Cidade de Lisboa, foi mandado construir por D. João V para a sua amante, a freira Madre Paula do Convento de Odivelas, de quem D. João teve um filho.

Para quem já visitou o Museu, percebe que D. João acomodou muito bem a sua amante.