22 maio, 2007

Mário de Sá Carneiro

" Rapidamente me sentei ao seu lado direito e lhe falei da poesia e da gordura de Mário de Sá Carneiro... O meu poeta preferido..."




Último soneto


Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes – e vieste...
– Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.


Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste –
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...


Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...


E fugiste... Que importa ? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...


Paris - dezembro 1915


Mário de Sá-Carneiro
Poemas Completos
Edição Fernando Cabral Martins
Assírio & Alvim
2001

2 comentários:

Miss Alcor disse...

Poética e romanticamente maravilhoso!

dancingkid disse...

Ainda me lembro do impacto que a poesia de Mário de Sá Carneiro me causou pela primeira vez que li, durante meses só lia aquele livrinho de poesias, adorava aquilo. Foi um ponto de partida para a descoberta de outros poetas.
Ultimamente, não tenho prestado muita atenção a livros de poesia. Mas, sem dúvida que os melhores poetas do planeta são tugas.