«(...)Pois talvez o senhor não saiba que Salazar tinha um galinheiro em São Bento, há quarenta anos atrás, e que criava galinhas, e que as galinhas punham ovos que ele mesmo vendia. Não acredita? Pois acredite - O Presidente do Conselho comerciava-os e não se coibia de o dizer. Vendia-os como se fosse um merceeiro de esquina. (...)»
Lídia Jorge,
Combateremos a Sombra, p. 37
«E assim, todas as noites ao serão, no Palácio de S. Bento - onde criava galinhas e patos como se ainda vivesse na aldeia e sempre assistido em tudo pela sua governanta dos tempos da Universidade de Coimbra -, aquele desconfiado beirão sentava-se na sua poltrona de sempre, descalçava as botas de polaina do século passado que insistia em usar ainda, substituía-as por umas pantufas de lã e ficava a ler e a responder à correspondência diplomática que lhe chegava dos seus embaixadores espalhados pelo mundo.»
Miguel Sousa Tavares,
Rio das Flores, p. 571/572
Os livros de Miguel Sousa Tavares e de Lídia Jorge, que cito, pouco têm em comum. Ambos são romances, com histórias obviamente, situados em épocas distintas e com personagens diferentes. No entanto, achei piada encontrar nos dois romance a referência a um mesmo aspecto sobre Salazar.
Com estas alusões apetece-me descobrir mais sobre esta figura que esteve à frente do destino do país, como Presidente do Conselho, perto de 40 anos, e da qual, ainda hoje sentimos influência seja nas mentalidades, seja no desenvolvimento económico e tecnológico do país.