18 março, 2007

Crónica de José Francisco Viegas do JN

Os nossos estudantes


A Brown University, aliás, é um exemplo traumático. As bibliotecas enchem-se depois das oito da noite, após o jantar. À meia-noite podem consultar-se microfilmes ou assistir a reuniões de grupos de trabalho na área das ciências. Na quinta-feira passada fui convidado para jantar com um grupo de alunos no Faculty Club da Brown; às dez da noite pediram desculpa mas tinham de retirar-se - havia trabalho para fazer e era preciso aproveitar a biblioteca até mais tarde.
No dia seguinte, ao meio-dia, estavam na minha conferência e tinham lido textos entretanto sugeridos. Encontrei-os ao fim da tarde numa das bibliotecas de humanidades a requisitar livros para o fim-de-semana, se bem que a sexta-feira à noite começava com uma aula de ginástica ou um jogo de futebol nos terrenos da universidade.
Sim, eram alunos de letras mas fazem desporto na universidade. Longe vão os tempos em que Raul Miguel Rosado Fernandes, homem das letras clássicas, à frente de um grupo da Faculdade de Letras de Lisboa, se sagrou campeão nacional de remo, derrotando inclusive a equipa da Escola Naval. Quem quiser comparar os alunos da época com os de hoje, há-de perceber como eles se tornaram menos leitores, menos saudáveis e mais doentios.

Em Portugal inventamos muitas desculpas e desvalorizamos os relatórios que dão conta da preguiça congénita dos nossos universitários. As excepções, valiosas, têm o aspecto de uma explosão que há-de ser contrariada pelo ambiente da própria universidade corredores sujos, grafitis nas paredes, os poucos relvados desertos, as bibliotecas pouco utilizadas para investigar.
Contei isto a alguns amigos. Falei-lhes do sistema de empréstimo de livros, do ritmo de leitura, das livrarias cheias no centro de Providence, das actividades extracurriculares, do facto de os alunos dos estudos Portugueses e Brasileiros terem lido Eça ( 3 a 4 livros), Camilo, Machado, Cesário, Camões e de saberem bastante de literatura portuguesa e brasileira contemporânea (não "por ouvir dizer" mas por "ler"). E de os debates nas aulas serem aguerridos, ricos, mostrando leitura e preparação. Disseram-me que eu estava muito americanizado embora eu me limitasse a mostrar-lhes os resultados do inquérito sobre a Universidade de Coimbra, onde se vê - como escrevi - o retrato da miséria escolar e da miséria cultural.

Basta comparar. Basta estar atento. Basta ler os sinais desta pobre falta de curiosidade portuguesa. Pobre país que tanto precisa de punir a pequena "nomenklatura" preguiçosa.
Enviado via e-mail por Ana Filipa.
Acho que esta crónica faz um retrato muito próximo do que são hoje a maioria dos nossos estudantes, ainda que não esteja de alguma forma ligada ao livro que lemos ou iremos ler, pensei ser interessante colocá-la neste espaço, visto que o Á Volta das Letras também se preocupa com o que se passa no mundo para além dos livros.

8 comentários:

Miss Alcor disse...

Infelizmente é uma triste realidade. As pessoas preocupam-se tanto em agradar aos outros, em vestir a roupa certa, em comprar aquela carteira de marca, que esquecem aquilo que realmente importa.
Fui a uma feira do livro, realizada numa universidade, e passei lá o dia com uma amiga que estava a tomar conta da "banca" onde se vendiam os livros. Por muito triste que pareça, apenas umas 7 ou 8 pessoas se aproximaram!
Uma tarde inteira e não houve mais do que meia dúzia de almas que se aproximassem e folhessem os livros mesmo que não os fossem comprar!
Fiquei chocada!

Anónimo disse...

Olá. Nós somos as Focas e as Babes. Tamos na aula de TIC e por tua causa temos que tar a ler isto, e nao podemos tar no Msn. Fogo feio.

Anónimo disse...

acho o texto uma grande seca

Anónimo disse...

ao ler as primeiras 5 linhas adormeci

Anónimo disse...

concordo, o texto e uma tristeza porque as pessoas como nos nao compreendem a felicidade porque o estado desvia o dinheiro de portugal

Anónimo disse...

Eu gosto das cronicas do Chico. :) São 5 strares.

Ass: Frotó men.

Anónimo disse...

ha 2 dias atras tentei ler mas adormeci porque o texto e uma merda

Totoia disse...

oh anónimo, aproveita lá as aulas, olha que essa vida não dura para sempre. ;)