30 novembro, 2006

Francisco de Goya


"- Pareces o cão de Goya.
- Agora pareço o cão de Goya. Está bem.
- Nos úlitmos tempos, quando Goya estava já acamado, o cão vinha para o pé dele e pousava a cabeça no colchão em sinal de veneração. E ele pintava-o como podia, não muito bem. Começaram a dizer que era a fase mais genial do Goya, coitado. Porque se via só aquela cabeça que parecia um fantasma? Porque a cama era alta, à espanhola."
In a Ronda da Noite, pág 178

Podia repetir

"Para duas pessoas se amarem são precisas três."

In A Ronda da Noite, pág. 170

23 novembro, 2006

Mas quem é que não gosta? (*)

"Gostava de rapazes de bom parecer, não só os que jogavam hóquei e que passavam ao domingo no passeio fronteiro; mas também de operários, de cabelos soltos e mal cortados (...)"

In A Ronda da noite, pág. 126


(*) Post a pedido da Laranjinha

22 novembro, 2006

Antigamente era assim ...

As criadas acabavam os restos dos copos, eram gulosas e pouco sabiam de cuidados de beleza. Há muito que deixaram de comer tigelas de café com sopas.

Os lojistas esperavam pacientemente pelos clientes. «Hoje já não há gente dessa.»

As raparigas casadoiras faziam enxoval. Havia jantar no dia do pedido da filha ao pai por parte do rapaz.

Até início do século XX houve o hábito de presentear as criadas com ouro.

Só depois da segunda Guerra Mundial é que as pessoas começaram a viajar. Só os ricos iam para a neve.

Antigamente ser calista era uma arte.

«Os saldos são o cerimonial do comércio que dantes ocorria de maneira muito imaginativa.
- Não é muito caro?
- Faço um abatimento por ser para si.»
Quando entramos numa loja, normalmente, não regateamos o preço. Limitamo-nos a pagar o que está na etiqueta.

O dono da loja, que fazia os descontinhos, hoje em dia é uma figura um pouco abstracta. Actualmente, regatear os preços só se for em mercados ou numa ou outra feira. Mas para regatear é preciso ter arte.

21 novembro, 2006

Figuras & personalidades

Ao longo do romance Agustina faz comparações trazendo para a obra um conjunto de nomes, que acho interessante descobrir. Aqui ficam alguns exemplos:

No romance, Maria Rosa, a avó de Martinho, quando tinha quarenta anos penteava o cabelo à Diana Durbin (Deanna Durbin).



Ao descrever as ancas de uma das criadas da casa, refere que esta não poderia disfarçar que tinha uma anca maior do que a outra, ao contrário de Maria Leczinska para quem foi feita a moda das anquinhas.

A cozinheira Ana é comparada à fada Carabosse. Para quem se lembra da história da Bela Adormecida, esta é a fada má.

20 novembro, 2006

Camille Claudel



"O exemplo que davam era o da amante de Rodin que acabou louca à força de não ser reconhecida como comparável a ele. Quanto tinha aguentado Rodin com aquela megera na cama, no atelier, em toda a parte!"
In A Ronda da noite, pág. 118

19 novembro, 2006

Calibã

Calibã é uma personagem, de William Shakespeare, em A Tempestade. É considerado um escravo selvagem, e deformado. É tratado com desdém e alvo de chacota por parte dos outros. No entanto, Calibã tem um dos mais expressivos discursos da peça:

«Não tenhas medo; a ilha está cheia de ruídos,
Sons, doces melodias, que deleitam sem ferir.
Por vezes sons agudos de mil instrumentos
Zumbem aos meus ouvidos; outras vezes são vozes
Que me fazem adormecer mesmo quando desperto
Após um prolongado sono. E então, em sonhos,
Parece-me que as nuvens se abrem mostrando riquezas
Prestes a cair sobre mim, e, quando acordo,
Desespero por adormecer de novo.»

in A Tempestade, Campo das Letras, P. 96

Está dito ...

«Com a curiosidade fazem-se mais coisas do que com a inteligência»
P. 50

«É o que acontece com as coisas bonitas - Não têm muita serventia.»
P. 52

«Os defeitos dos outros favorecem o próprio ego» P. 59

«Não temos filhos temos herdeiros quando a morte se aproxima» P. 60

«O poder está no homem» P. 103

Rembrandt e Agustina - a profundidade psicológica das suas narrativas

Quer olhemos o mestre holandês ou a Sibila insubmissa que habita Agustina, há aspectos que são únicos e hipnotisadores nas suas obras. Esta é uma possível leitura que partilho convosco.


Os artistas do século XVII recorriam a cenas da história, da Bíblia, da mitologia clássica e do mundo antigo, considerando-as a forma mais elevada de arte. Rembrandt é conhecido pela faculdade de penetrar no âmago duma história. Ele sabia escolher o momento decisivo e como representá-lo de forma efectiva. Isto torna-o um fantástico contador de histórias, capaz de compreender a psicologia das mesmas. Em muitos dos seus quadros, é evidente que Rembrandt havia estudado as emoções e pensamentos que motivaram as suas personagens, levando o espectador a sentir empatia com elas.

"Agustina parece sempre ter vivido dentro e fora do tempo, numa espécie de observatório clínico da alma humana, captando-lhe o imortal enigma sob as mortais vestes dos dias. Cedo se deixou viciar pelo romance, iluminada roleta dos comportamentos humanos […] Tem construído uma visão do mundo original, integrando intuição e racionalismo numa espécie de sabedoria capaz de captar a essência de uma época.

Sob um estilo aparentemente clássico, a autora estilhaça todas as regras convencionais da criação de presonagens e de desenvolvimento da acção: as personagens – em particular os homens- são intrinsecamente virtuais ( imprevisíveis, permeáveis, porosas), a acção deixa-se contaminar pelas múltiplas recriações da memória de acções anteriores. " [1]

[1] PEDROSA, Inês, 20 mulheres para o século XX

Texto de Cristina Basílio enviado por email.

17 novembro, 2006

Mito?

"Ele riu-se, roendo um osso da galinha, que era o que gostava mais: galinhas do campo, assadas e bem loiras. Seria por isso que os homens perferiam as loiras?"

In A Ronda da Noite, pág. 118

Será que preferem mesmo?

14 novembro, 2006

Nos dias de hoje

"As pessoas sofrem quase todas de insignificância e só as podemos aliviar dizendo-lhes que escrevam um livro, plantem uma árvore e façam um filho. Isso traduzido para os tempos mais recentes resumia-se em comprar um automóvel, fumar erva e ir a um concerto de rock."
In A Ronda da Noite, pág 43
Será que se perdeu assim tanto os valores, queremos tão pouco para a nossa vida?

Assim é que é falar!

"O que sabem as mulheres dá para arrasar montanhas."

In A Ronda da Noite, pág.35

13 novembro, 2006

Messalina e Agripina

Martinho falando com a avó refere-se a Elisa, dizendo:

«- Que paciência a tua, avó! O que eu acho é que ela é malcriada, rabujenta e intratável. Merecia ser Messalina ou Agripina ou outra como elas.»
in A Ronda da Noite, p. 22

09 novembro, 2006

Aborto

«Patrícia Xavier (...) Não se podia imaginar que ela morrera dum aborto mal sucedido, mas foi assim. (...) Um aborto não era tão extraordinário e sobretudo depois dos quarenta anos as mulheres recorriam aos médicos para se recomporem dum acidente que, na verdade tinham previsto mas não acautelado.

Passados dias Patrícia Xavier morreu e aquilo entendeu-se como um desastre. Os médicos calaram-se no diagnóstico, o que levantou mais suspeitas, tanto mais que ela tinha recorrido a uma parteira e não teve a assistência do tal experiente arrombador de cofres.»
in A Ronda da Noite, p. 16 e 17,

Não se sabe ao certo quantos abortos clandestinos se fazem, em Portugal, por ano. Calcula-se que muitos. Algumas destas mulheres morrem. E porquê? Por que motivo se continua a legislar sem olhar para a realidade?

08 novembro, 2006

Já não há dúvidas ...

«É um homem e os homens são imprevisíveis»
in A Ronda da Noite, P. 8

A relação entre novos e velhos ...

«Naquele ano coube a Martinho Dias Nabasco acompanhar o que restava duma família numerosa e abastada, ao cemitério da terra natal. Ainda havia muitos descendentes no estrangeiro, mas a casa em que se reuniam objectos e memórias mais presentes estava praticamente desabitada. Com o mau humor que caracteriza os jovens ao ter que proteger publicamente os velhos (...)»
in A Ronda da Noite, P. 7

As nossas relações com os outros envolvem um turbilhão de sentimentos e ideias. Mas com os mais velhos, essa relação vai tendo ao longo da nossa vida diferentes níveis. Em criança, os avós são o oposto dos pais, deixam-nos fazer coisas que às vezes os pais não deixam, são companheiros de algumas brincadeiras. Na adolescência a coisa muda um pouco de figura. Acho que chegam a ser postos um pouco de lado perante a necessidade de afirmação dos jovens.

Agustina refere o mau humor de Martinho a ter que ajudar publicamente a avó. O ser visto com os velhos cria um mau estar perante os outros. Um mau estar social, como que se quem precisasse de ajuda é quem está a ajudar ou, como se aquela ajuda fosse uma forma de menorização, uma certa vergonha, perante os outros.

Acho que nos voltamos a "reconciliar" com a velhice quando crescemos interiormente, quando percebemos que não vamos mudar o mundo e que o envelhecer é um processo que todos acompanhamos.

06 novembro, 2006

Um bocadinho da sua história pessoal

Agustina Bessa Luís é descendente de uma família do Norte e de uma Espanhola, de Zamora. Nasceu em Amarante no ano de 1922. Actualmente vive no Porto, mas a sua infância foi passada em Vila-Mea.
A sua primeira obra foi a novela O Mundo Fechado em 1948, desde então nunca mais parou de escrever, tendo uma actividade literária invulgar. Tem actualmente mais de 50 obras publicadas.
Uma das suas obras mais conhecidas a Sibila, hoje fonte de estudo e análise no ensino secundário, recebeu por este romance o Prémio Eça de Queirós, em 1954.
Viu alguns dos seus livros adptados ao cinema pela mão do cineasta Manoel de Oliveira.
Em 2004, recebe o prémio mais importante da sua carreira, o Prémio Camões.
Agustina é uma das mulheres mais activas na nossa sociedade cultural, participando em inúmeras acitivadades, actualmente podemos vê-la no programa Ela por Ela do canal 1.
Obra publicada.
Prémios que recebeu até hoje.
Para saber mais.

Filmes

Alguns dos romances de Agustina Bessa Luís passaram a filmes:

1981 - Francisca, de Manoel de Oliveira, romance Fanny Owen

1993 - Vale Abraão, de Manoel de Oliveira, romance Vale Abraão

1995 - O Convento, de Manoel de Oliveira, com Catherine Denevue e John Malkovich, romance As Terras do Risco

1998 - Inquietude, de Manoel de Oliveira, conto A Mãe de um Rio, Prémio Globo de Ouro (1999) para a melhor realização

2002 - O Princípio da Incerteza, de Manoel de Oliveira, romance O Princípio da Incerteza

2005 - Espelho Mágico, de Manoel de Oliveira, romance A Alma dos Ricos

A Ronda na Noite na blogoesfera

Aqui .

Espreitem...

Apenas para abrir o apetite.

Ela por Ela

Aos Domingos às 24H15m, podemos ouvir Agustina Bessa Luís e Maria João Seixas em conversa à volta dos provérbios e aforismos.
Ela por Ela conta com 13 episódios, ideia original de Agustina Bessa Luís.

05 novembro, 2006

A Ronda da Noite ( De Nachtwacht ) por ... Rembrandt

E que tal começar este livro da Agustina pela história do belíssimo quadro de Rembrandt, De Nachtwacht, que serve de base à capa do livro e é aparentemente um elemento constante ao longo da(s) estória(s) do mesmo?


"It was first hung in the Arquebusier's hall the Kloveniersdoelen in Amsterdam in the 'Groote Zaal', Great Hall. This is now known as the Doelen Hotel. In 1715 it was moved to the Amsterdam town hall, for which it was altered. When Napoleon occupied the Netherlands, the town hall became the Palace on the Dam. The magistrates moved the painting to the Trippenhuis of the family Trip. Napoleon ordered it back, but after the occupation the painting was moved to the Trippenhuis again, which had now become the Rijksmuseum, and was moved to the new Rijksmuseum building when it was finished in 1885. Its last major movement was during the Second World War, when it was kept in a secure bunker under the hills of Limburg for over five years, detached from its frame and rolled around a cylinder. It was restored to the Rijksmuseum after the war."

( in Wikipedia )

Estivemos lá!

Este encontro de o À Volta das Letras foi diferente, pois tivemos a presença dos escritores. E, digo-vos foi muito agradável, é sempre muito interessante conhecer as pessoas que escreveram aquilo que estivemos a ler.

Perceber como construíram o enredo, as personagens, os cenários... Foi mesmo muito bom!

Vamos ver se conseguimos que mais escritores venham aos encontros.

A próxima sugestão de leitura é A Ronda da Noite de Agustina Bessa Luís, finalmente uma mulher, o encontro ficou para dia 3 de Dezembro às 10h30 no Museu de Arte Antiga.

Boa leitura.

Publicidade Institucional

À Volta das Letras na imprensa. Aqui.

Foi assim...



Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira, os autores do Paralelo 75 ou O segredo de um coração traído, compareceram tal como combinado ao nosso encontro. Foi uma manhã muito animada, nem demos pelo tempo passar.

Jorge e Pedro são excelentes contadores de histórias, muito bem dispostos. Esclarecemos algumas questões não só sobre o livro que lemos mas também do Nem tudo começa com um beijo, o segundo livro que escreveram.

Por fim, ofereceram-nos o seu primeiro livro Comandante Hussi, que vamos ler com muito prazer depois de nos terem falado dele com tanto carinho.

Queremos também ir ao teatro ver Nem tudo começa com o beijo que está em cena pela mão da companhia Teatroesfera.

Resta-nos agradecer a disponibilidade e simpatia de Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira, cá ficamos à espera de novas histórias.

03 novembro, 2006

Encontro

Acabo de receber a confirmação da presença do escritor e do ilustrador do Paralelo 75 ou O segredo de um coração traído - Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira , no nosso encontro que se irá realizar já este Domingo, na cafetaria do Museu Calouste Gulbenkian pelas 10h30.
Até lá...

02 novembro, 2006

Post it

Relembro que o encontro mensal do À volta das letras é já este Domingo às 10h30, na cafetaria do Museu Calouste Gulbenkian.
Convidámos a todos os que tem visitado este blogue a vir beber um café connosco, este mês o livro escolhido foi o Paralelo 75 ou o segredo de um coração partido.
Não se preocupem em não ter lido o livro, não serão com certeza os únicos, além disso as nossas conversas nunca se ficam só nos livros, nestas tertúlias discute-se muito e sobre muita coisa.

Apareçam.

Fundação Calouste Gulbenkian
Morada: Av. de Berna 45A 1067-001 Lisboa
Transportes:
Metro: Estações de S. Sebastião ou Praça de Espanha
Autocarro: 16, 26, 31, 46, 56