15 setembro, 2006

O Rei e a Rainha






















«D. João, quinto do seu nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou.»

in Memorial do Convento, P. 7, RBA

É com esta frase que se inicia a obra, O Memorial do Convento, que o À Volta das Letras propõe para leitura durante o mês de Setembro. Nas três páginas iniciais, Saramago vai expondo algumas ideias, da época, sobre a fertilidade. Diz ele:

«Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é um mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes (...)» P. 7

«(...) porque sendo a mulher, naturalmente, vaso de receber (...)» P. 9

«(...) nem a persistência do rei, que, salvo dificultação canónica ou impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal, nem a paciência e humildade da rainha que, a mais das preces, se sacrifica a uma imobilidade total depois de retirar-se de si e da cama o esposo, para que não se perturbem em seu gerativo acomodamento os líquidos comuns (...)» P. 7 e 8

«O cântaro está à espera da fonte» P. 9

A mulher era vista apenas como um receptáculo.

P.S. Os sublinhados (bold) são meus.

12 comentários:

Anónimo disse...

Fiquei com vontade de ler o livro. Acho que vou recomeçar, pois até o tenho na mesa de cabeceira há algum tempo.

Laranjinha disse...

Óptimo. Espero que partilhe connosco as suas observações/comentários. Boa leitura.

Totoia disse...

Parece incrivel como a mulher era tratada.

O mais estranho é pensar que em pleno século 21 ainda há países onde as mulheres são meros objectos ou seres inferiores.

Vegana da Serra disse...

Realmente, as mulheres eram culpadas de tudo, umas autênticas desgraçadas!

Quantas mulheres foram acusadas de serem inférteis quando o problema era dos maridos?

Quantas mulheres foram acusadas de não terem filhos varões, quando afinal é o espermatozóide que define o sexo do bébé?

Quantas injustiças... mas noutros tempos, graças a Deus!

Anónimo disse...

Não me parece que a injustiça seja problema do passado. Recordo-vos a campanha em curso para dar conhecimento da violência doméstica. Quanto à infertilidade, mesmo nos casais actuais, normalmente a suspeita de infertilidade cai sempre primeiro sobre a mulher. Só face a evidências que exigem provas é que o real esposo se sujeita ao teste do copinho...

Anónimo disse...

Pela primeira vez a ver se leio um livrito do Saramago.... estas frases despertaram-me o interesse! Coragem india ;)

denis-pastilha elastica

Totoia disse...

Senão me engano, tb é a primeira vez que nos escreves, estarei enganada... Denis:)

Anónimo disse...

Olá Denis. Agradeço o reforço positivo ainda que, confesso, não tenha percebido o alcance. Se a coragem é para ler o Saramago, bem preciso dela. Gostei de saber no post anterior que o Ensaio sobre a Cegueira vai passar ao cinema. Penso que a minha iniciação em Saramago vai passar por aí. Já agora deixo-vos o início do início de O Ensaio:

" Se puderes olhar, vê;
Se puderes ver, repara"

Provavelmente muitos de nós andaremos ceguetas e esbarrar sempre no mesmo. Coragem!

Totoia disse...

Olá India espero que não se vá iniciar com o filme, pq senão vai ter de esperar dois anos.:)

Continuo a dizer o Memorial do Convento é um dos melhores romances históricos que já li.

Anónimo disse...

Quanto entusiasmo! Não, a iniciação é com o Ensaio sobre a Cegueira. Vou dar o benefício da dúvida e espreitar no Memorial. Bj

Totoia disse...

Já estou a gostar mais do discurso India! Força, vai gostar de certeza. Bjs

Anónimo disse...

Na 2ª feira logo te digo se me entranhei no humor do premiado ou se estranhei em absoluto e para todo o sempre... Quiçá... Vamos lá dar o benefício da dúvida ao homem que anda lá fora a fazer pela vida. :)